Arnaldo Jardim, deputado federal e vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA)
Com uma alta de 7,69% em 2024, o preço dos alimentos levou a inflação para além da meta de 4,5%, estabelecida pelo Banco Central, fechando o ano em 4,83%. Nesses dois primeiros meses de 2025, as prateleiras dos supermercados continuam pressionando o Índice Geral de Preços-Mercado (IGPM), ainda que os dados desta semana mostrem uma mudança.
Para aliviar a pressão do desgaste, não faltaram atitudes intempestivas do governo, como o anúncio de uma pretensa intervenção nos preços para baratear os alimentos, anunciada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, ou a declaração do presidente Lula de que os biocombustíveis, como biodiesel e o etanol de milho, são os verdadeiros vilões da carestia.
O preço do óleo de soja, que ficou muito caro durante a pandemia, sofreu uma forte deflação, em 2023, de 36%. Os preços voltaram a subir a partir do segundo semestre do ano passado com a quebra da safra de soja 23/24, devido a fatores climáticos. Foram produzidos 147,38 milhões de toneladas da oleaginosa na safra 23/24, frente a 154,6 milhões de toneladas em 22/23, uma queda de 8,7%. Está prevista uma safra recorde em 2025, o que certamente reduzirá a pressão sobre os preços, ou seja, uma redução como a que ocorreu em anos anteriores.
Na verdade, o aumento do esmagamento da soja para produção de biodiesel amplia a oferta de farelo no mercado com consequente redução do preço da proteína animal. Com uma participação média de 22% na fabricação das rações para animais, o farelo garante uma economia de 3,5 bilhões em despesas com proteínas animais, equivalente a uma redução de 0,05% no Índice de Preços ao Consumidor (IPCA). Além disso, quanto maior o esmagamento, maior a produção de óleo comestível.
Em relação ao etanol de milho, estudo conduzido pelo professor Marcelo Justus, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), intitulado Did the entry of the corn ethanol industry in Brazil affect the relationship between domestic and international corn prices, mostra que a expansão da indústria de etanol de milho no Brasil não impactou os preços do grão nem os custos dos alimentos. Consequência do aumento da produtividade agrícola em função da adoção de novas tecnologias e da possibilidade de colheitas múltiplas.
Segundo os pesquisadores, a chamada “safrinha” brasileira, uma segunda safra de milho plantada após a colheita da safra principal, aumenta a produção de milho sem afetar o preço, o que nos permite produzir energia a partir de biocombustíveis sem comprometer a oferta alimentar. O estudo, publicado na GCB Bioenergy — revista conceituada na área de energia sustentável —, mostra ainda que os preços do milho no Brasil estão muito alinhados com o mercado internacional, cuja flutuação acompanha conjecturas pontuais.
Podemos concluir, com firmeza, que a inflação dos alimentos não é responsabilidade dos biocombustíveis, cuja contribuição para o meio ambiente e para a economia é inegável. A solução é o aumento da produção, que depende de financiamento e previsibilidade, questões para as quais o governo pode contribuir decisivamente, ao invés de adotar medidas intempestivas.
Em novembro de 2024, o presidente Lula sancionou, em uma grande cerimônia, a Lei do Combustível do Futuro, que visa ampliar a participação dos combustíveis renováveis na matriz energética brasileira. As estimativas são de que o novo marco traga mais de 200 bilhões de investimentos para o Brasil. Lançar dúvidas sobre a virtuosidade dos biocombustíveis manda uma mensagem negativa para o investidor, sugerindo que pode haver uma mudança de rota a qualquer momento e o país deixe de investir em biocombustíveis.
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