Artigo: Como a alta dos juros impacta o acesso à educação?

Nivio Lewis Delgado*

O acesso ao ensino superior no Brasil registrou o maior crescimento dos últimos dez anos em 2023. Nesse período, o número de matrículas nas redes pública e privada subiu 5,64% — avanço impulsionado pelo incremento do volume de estudantes nos cursos de ensino a distância (EAD). Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior.

Embora positivo, o resultado ainda é insuficiente, frente ao potencial de aumento de ingressantes. A mesma pesquisa, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta que apenas 21% dos alunos que concluem o ensino médio na rede estadual entram para a universidade no ano subsequente. Mas, afinal, por que isso acontece?

Poderíamos elencar diversos motivos para justificar esse descompasso, como a falta de informação sobre as formas de acesso, a aposta no empreendedorismo, dinâmicas em sala de aula incapazes de capturar a atenção dos universitários, e dificuldades para conciliar estudos e trabalho. Quero, contudo, debruçar-me sobre a razão apontada como a principal por pesquisa recente da Deloitte: restrições financeiras. Mensalidades que não cabem no bolso do estudante e a disputa acirrada por vagas em universidades públicas acabam por distanciar o jovem do tão sonhado curso de graduação.

A necessária elevação da taxa básica de juros, anunciada recentemente pelo Banco Central (BC), representa um desafio adicional nesse contexto. A alta da Selic para 13,25% ao ano, no intuito de combater a desancoragem das expectativas de inflação, influencia diversos setores da economia, entre eles, o da educação. E já há novos reajustes previstos para março de 2025. Quando a Selic sobe, o aumento do custo de capital para as instituições de ensino tende a dificultar ainda mais a realização de suas missões educacionais. Com uma economia mais apertada, também é factível que haja maior evasão, tendo em vista a dificuldade de alguns alunos para honrarem o pagamento do curso.

Diante desse cenário, o crédito educacional, em que o aluno entra para a universidade e restitui o valor total das mensalidades somente após a conclusão do curso, funciona como uma alternativa que contribui para a manutenção e o crescimento de matrículas no ensino superior. Há opções no mercado que dispensam a cobrança de juros remuneratórios, ou seja, que não tomam a Selic por parâmetro. Esse tipo de solução funciona há décadas e vem garantindo acesso a milhares de pessoas — promovendo a inclusão educacional e produtiva de jovens que concluem o ensino médio em escolas públicas.

Dados apontam que o Brasil é um dos países com a pior taxa de produtividade entre 67 economias no mundo. Em 2024, caiu duas posições no ranking divulgado anualmente pelo Institute for Management Development (IMD), passando a ocupar o 62º lugar. Não por coincidência, o país mais bem avaliado, Singapura, é também o que lidera a nota no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), ou seja, investir em educação é apostar em desenvolvimento e competitividade, a partir do aumento da produtividade per capita.

A relação entre estudo e inclusão produtiva é evidente. Em 2023, 24% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos de idade não estudavam nem trabalhavam. A situação é pior do que em boa parte dos países desenvolvidos, conforme levantamento divulgado neste ano pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O relatório aponta a formação acadêmica — ou a falta dela — como um dos fatores determinantes na hora de conseguir um emprego, reforçando mais uma vez essa tese.

Para superar esse desafio, é imprescindível que, para além das soluções de crédito privado, o país fortaleça investimentos em políticas públicas eficazes. Essas políticas devem priorizar a democratização do acesso ao ensino, a valorização dos professores, a ampliação de vagas nas universidades e a oferta de apoio financeiro contínuo a estudantes.

Somente por meio de um conjunto integrado de ações será possível diminuir a disparidade entre o número de jovens que concluem o ensino médio e aqueles que conseguem ingressar e concluir uma graduação. Não podemos deixar que o custo de capital aumente ainda mais o risco de sermos uma nação desigual em oportunidades e pouco produtiva em comparação a outros países, pelo baixo investimento em ensino. É tempo de acreditar — e de fazer acreditar — em alternativas, para que o Brasil volte a crescer pelas mãos da educação.

*Presidente da Fundacred

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