A pandemia de Covid-19 vem deixando sinais de pura incompetência administrativa. É certo que a crise não mandou recado, mal houve tempo para montar um arsenal de guerra contra o vírus. Mas são esses momentos de grandes desafios que separam os bons dos maus gestores. Impressiona ver a quantidade de decisões tomadas por agentes públicos tão desconectadas da gravidade imposta pela maior emergência sanitária dos últimos tempos. Revelam a insensibilidade com a população que sofre os efeitos dessa pandemia devastadora e mostra a ausência de compromisso com o bem-estar das pessoas.
A Prefeitura de Governador Valadares (MG) é um exemplo de como contrariar o bom senso. Cancelou o contrato com a empresa Pampulha Dedetização, que executaria ações de higienização da operação Sanitiza GV, como ação de combate à proliferação do novo coronavírus. O contrato previa a prestação do serviço por três meses na cidade, com ações de limpeza durante todos os dias da semana, em prédios públicos, hospitais, centros de saúde e pontos de ônibus. O Sanitiza GV também previa colocação de barreiras sanitárias nas entradas da cidade, além de instalação de 30 cabines sanitárias para higienização de pessoas em pontos estratégicos. Nada seria mais recomendável do que ações de sanitização para ajudar no combate à Covid-19, mas o que parece óbvio não é para a administração pública de Governador Valadares.
Na serra gaúcha, o município de Farroupilha suspendeu duas vezes o contrato com a GigaCom, o maior fornecedor de redes privadas de telecomunicações, que desenvolvia o projeto de transformar Farroupilha em uma cidade inteligente, interligando todas as escolas da rede municipal, as unidades de saúde e os órgãos da administração. Tecnologia é outra arma vital para combater o isolamento social e as restrições de mobilidade: ensino a distância, novos turnos, aulas remotas de recuperação e reforço escolar, melhor gestão da saúde, mais facilidade e eficiência na administração pública e na oferta de serviços para o cidadão. Parecem óbvios os benefícios, mas a visão míope não os alcança.
A decisão desastrosa da prefeitura de Cabo Frio (RJ), uma bela cidade praiana, também causou descontentamento e revolta entre os seus moradores. Todos os contratos temporários da Educação – apenas os da Educação – foram cancelados. Justamente em um momento em que escolas estão fechadas, e em que se faz mais necessário o investimento no ensino, a prefeitura corta professores. Mesmo com os protestos dos servidores da secretaria e de pais de alunos, a gestão municipal manteve as demissões.
É triste ver tamanha falta de visão do presente, o que deixará marcas profundas no futuro.
Alaíde Fonseca é mestre em Administração pela UFMG e professora de Administração Pública
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