Empresas de tecnologia começam a chacoalhar o mercado de seguros brasileiro. Realidade há mais tempo em outros países, como EUA e Inglaterra, as chamadas insurtechs ganham força por aqui. Existem 27 startups nesse grupo, de um total de 256 fintechs (incluindo empréstimos, pagamento e investimentos, principalmente), segundo mapeamento da Conexão Fintech, iniciativa liderada pelo empreendedor José Prado e que busca fomentar o ecossistema de fintechs no país.
Apesar de embrionário, o movimento crescente de iniciativas no setor de seguros está no radar do regulador: a Superintendência de Seguros Privados (Susep) criou, em julho, a Comissão Especial de Inovação e Insurtech. A primeira reunião ocorreu dia 15 deste mês. “As inovações são bem-vindas, mas precisam estar alinhadas às diretrizes do setor de seguros, que é um mercado regulado. A disruptura irá acontecer, mas ela não pode atravessar um mercado no qual há regras”, enfatiza Joaquim Mendanha de Ataídes, superintendente da Susep.
Para especialistas, a tendência veio para ficar, assim como tem ocorrido em outras regiões do mundo. “As insurtechs estão desfrutando de crescimento recorde e agora são um fenômeno global”, aponta Hugo Assis, líder de insurance da Accenture para Brasil e América Latina. As novidades vão além dos EUA, polo tradicional para a criação de startups. Outros mercados como China, Índia e Alemanha começaram a participar do movimento neste ano. Estima-se que haja mais de 1,6 mil insurtechs no mundo.
Enquanto em 2016 os investimentos ficaram na ordem de US$ 1,7 bilhão, este ano sinaliza um avanço significativo, na avaliação do executivo. Ele cita um relatório da Willis Towers Watson e da consultoria CB Insights. Conforme o estudo, o investimento em insurtechs no segundo trimestre de 2017 totalizou US$ 985 milhões, um salto de 148% na comparação com o mesmo período do ano passado.
No Brasil, a largada foi dada há alguns anos com o surgimento de corretoras digitais, por exemplo, Bidu e Minuto Seguros. Iniciativas mais recentes vão além da venda e traçam o comportamento das pessoas, com uso de novas tecnologias, para estruturar o seguro de maneira mais personalizada. “O grande desafio é mudar a relação dos brasileiros com o seguro. O setor precisa ouvir e entender suas reais necessidades”, analisa Gustavo Zobaran, coordenador do Comitê de Insurtechs da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), grupo de trabalho criado este ano e que reúne, além de insurtechs, empresas de seguros tradicionais, segundo ele.
Lançada em março, a plataforma mobile thinkseg oferece atualmente seguro para automóveis, para pet (cachorros e gatos) e smartphones, além de um produto de assistência, que inclui uma cesta de serviços para veículos e para a residência, como encanador e eletricista. O modelo de negócios se baseia na venda digital, sem qualquer interação humana, diz o ex-sócio do BTG Pactual, André Gregori, CEO da thinkseg. “A gente faz a cotação do seguro em cinco segundos.
Já a contratação leva menos de 1 minuto.”
Com ajuda de um conjunto de algoritmos, o aplicativo usa redes sociais para delinear o perfil dos potenciais segurados. O comportamento se reflete no preço do seguro, por exemplo, motoristas mais responsáveis no trânsito conseguem desconto na contratação do seguro auto. “O objetivo é chegar ao melhor preço possível, a partir da leitura dos dados da telemática, com inteligência artificial”, reforça Gregori.
Hoje, a plataforma trabalha em parceria com nove seguradoras. Até o fim do ano, a ideia é ampliar o portfólio com um seguro de fiança locatícia. Para o primeiro semestre de 2018, a expectativa é ofertar seguro saúde e trazer ao mercado um produto para a família, que incluirá diferentes riscos (residência, vida, auto, previdência e saúde) em uma apólice conjunta.
Comandada por José Carlos Macedo, que passou por Bradesco Seguros, Aon e Pan Seguros, a Ô Insurance Group está em operação desde maio como uma plataforma digital de distribuição de seguros. “Percebemos a necessidade do mercado de ter um provedor de inteligência que figurasse entre seguradoras, operadoras de saúde e todo o canal de distribuição para gerar agilidade aos negócios”, diz o CEO da empresa.
O negócio recebeu investimento de R$ 50 milhões para estrutura, tecnologia e marketing, recursos oriundos do family office Forest Holding (presidido por Macedo) e do fundo TreeCorp. “A plataforma foi concebida com conceito de multiproduto, multicanal e multiseguradora. Estudamos muito as necessidades dos clientes para criar produtos customizáveis”, afirma Macedo.
Criada em novembro do ano passado, a Youse, plataforma de vendas de seguro on-line da Caixa Seguradora, trabalha com o modelo de oferta sem intermediação do corretor. As apólices são montadas a partir de diversos parâmetros selecionados pelo usuário.
Fonte: Valor Econômico
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