As compras pela internet atravessam dias de vento a favor, o que contraria as projeções negativas de outros setores da economia. O comércio eletrônico no Brasil faturou R$ 16 bilhões no primeiro semestre, segundo o relatório WebShoppers, da E-bit, especializada em informações de varejo on-line. O resultado indica um crescimento nominal de 26% em relação ao mesmo período do ano passado. “As pequenas e médias empresas representam cerca de 20% do total do faturamento do setor, em um universo com mais de 20 mil lojas”, diz Pedro Guasti, diretor executivo da E-bit.
A expectativa é que as vendas via rede atinjam R$ 35 bilhões até o fim do ano, um salto de 21% ante 2013. Ainda há setores a serem desbravados pelos empresários, como decoração, brinquedos e games, e o modo de comprar também aponta para uma nova direção. O m-commerce, comércio feito por meio de dispositivos móveis, como celulares e tablets, engordou 84% no último ano. Mas o que faz as compras virtuais continuarem em alta?
Segundo Guasti, uma das razões do cenário positivo é o aumento da confiança do consumidor. O indicador Net Promoter Score, que mede a satisfação e a experiência do consumidor, passou de 58,9%, em junho de 2013, para 60,4%, em junho passado. “Pesam para isso a facilidade que o serviço oferece, com a conveniência de receber os produtos em casa, além de descontos não encontrados em lojas físicas.”
Outro fator que engorda os cifrões é o aumento da base de clientes. Somente no primeiro semestre de 2014, mais de cinco milhões de novos compradores entraram no mercado eletrônico, totalizando 56 milhões de consumidores que já fizeram, pelo menos, uma compra digital. Até o fim do ano, a E-bit prevê que essa audiência chegue a 63 milhões de pessoas.
Nos próximos anos, novos segmentos deverão ganhar destaque, afirma Guasti. Entram na lista: casa e decoração, eletrônicos, esporte e lazer, brinquedos e games. “São categorias que oferecem serviços específicos e têm espaço para crescer.” Hoje, a categoria moda e acessórios lidera as preferências, com 18% do total de pedidos, seguida por cosméticos e perfumaria (16%) e eletrodomésticos (11%).
Os principais desafios dos donos de pequenas empresas que vendem pela internet se referem a questões de logística de entrega, marketing, controle de estoque, tributação e concorrência, segundo Luiz Barretto, presidente do Sebrae. “Quem quer investir no comércio on-line deve se preocupar mais com planejamento e capacitação”, diz. “É importante ter bons fornecedores e foco na gestão da operação, desde o recebimento do pedido até a entrega do produto.” A entidade acaba de lançar duas cartilhas para auxiliar empreendedores que já gerenciam ou querem abrir um ponto na web.
“A concorrência está cada vez mais acirrada”, diz Barretto. De acordo com pesquisa feita pelo Sebrae, as empresas de vendas on-line investem 14% do faturamento em marketing, para driblar competidores e ganhar espaço nos monitores dos internautas. Outra tendência identificada no levantamento é o esforço para laçar consumidores.
As marcas estão mais presentes nos buscadores on-line, redes sociais e utilizam recursos como e-mail marketing e links patrocinados – 18% dos empresários do setor já trabalham com o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp para atender clientes. “A oferta de produtos recomendados a partir do comportamento de compra do usuário também tem sido relevante para aumentar as entregas.”
Segundo Hyrla Marianna Oliveira, coordenadora do comitê de micro, pequena e média empresa da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), o maior problema dos empresários não é mais montar um ponto virtual – graças a sites que entregam operações prontas – mas tocar a gestão do empreendimento depois que estiver no ar.
Dados da Loja Integrada, empresa de plataformas associada à camara-e.net, indicam que os negócios de porte reduzido levam, em média, de três a seis meses para gerar as primeiras vendas. “O erro mais comum é desenhar a estratégia do negócio depois que ele está na internet. É preciso fazer um planejamento.”
Outra falha comum das lojas menores, segundo a coordenadora, é oferecer produtos já consolidados por grandes varejistas, que têm margem de negociação com fabricantes e um maior alcance de venda. “É um engano imaginar que basta montar o site e esperar pelas buscas orgânicas (não pagas) dos buscadores para gerar resultados”, diz Hyrla. “Para uma unidade virtual dar certo, é necessário se conectar a vários canais como marketplaces, comparadores de preço, links patrocinados e redes sociais.”
No site de moda Dafiti, criado há três anos, a estratégia de crescimento combinou variedade de ofertas, promoções para clientes e investimentos em logística e canais de atendimento. A receita chamou a atenção do mercado e a marca já recebeu mais de R$ 660 milhões de investidores internacionais.
“Para conquistar a confiança do consumidor, contamos com frete livre para compras acima de R$ 99,90 e troca gratuita em até 30 dias”, diz o sócio-fundador Malte Huffmann. As entregas são feitas via Correios e 18 transportadoras parceiras. Na vitrine, oferece cerca de 100 mil itens de mais de mil marcas em categorias como roupas, calçados, beleza, acessórios, esportes e casa e decoração.
De acordo com o empresário, os internautas estão gastando cada vez mais pelo celular e tablets – o aplicativo da Dafiti para compras móveis já superou um milhão de downloads. “O ticket médio dos consumidores que compram pelo app e a taxa de recompra são maiores do que os que usam computador de mesa”, afirma Huffmann, sem revelar valores.
Fonte: Valor econômico
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