Dilma Rousseff está guardando para os últimos metros da campanha eleitoral uma cartada na tentativa de chacoalhar com as expectativas e falar direto ao bolso do empresariado. Trata-se de um plano de concessões para o setor de infraestrutura. O foco maior será a área de logística – ferrovias, rodovias, aeroportos e terminais portuários. Mas o caldeirão terá de tudo um pouco: projetos de mobilidade urbana, energia, inclusive geração nuclear, telecomunicações, leia-se frequências ainda encalhadas na Anatel, e saneamento. As discussões envolvem os ministros Aloizio Mercadante e Guido Mantega e o secretário do Tesouro, Arno Augustin, espécie de Rasputin de Dilma e responsável por alguns pontos em toda esta costura. A questão ainda não está fechada. Muito pelo contrário. No governo, há dúvidas em relação ao timing para a divulgação do projeto.
Como as diretrizes não estão totalmente alinhavadas, o receio é que o tiro passe longe da oposição e pegue no pé da própria Dilma, ferindo a campanha pela reeleição. Ou seja: em vez de oportuna, a medida pode ser recebida como oportunista – até porque não deixa mesmo de ser. No entanto, o que ninguém duvida no governo é de que está mais do que na hora de sair da mesmice. As circunstâncias pedem alguma proposta capaz de criar a percepção de resgate do crescimento econômico e de promover uma reaproximação entre a presidenta e o setor privado. Com o anúncio do novo programa de concessões, o governo espera sensibilizar o empresariado e mitigar o preconceito e a raiva que têm pautado esta relação, características que só se acentuaram na reta final da campanha. Todos os recentes movimentos feitos por Dilma e pela equipe econômica têm sido recebidos pelos empresários ora com odiosidade, ora com frieza, caso, por exemplo, das medidas anunciadas nos últimos dias, como a redução do Imposto de Renda sobre lucro no exterior e os estudos para a ampliação dos descontos do PIS-Cofins. Para amansar a fera, nada melhor do que trazê-la bem para perto. O governo pretende discutir com a iniciativa privada a modelagem mais adequada e a engenharia financeira para a licitação das novas licenças.
O fardel de concessões não deverá apresentar qualquer fato novo. A rigor, será formado a partir do carry over de anúncios anteriores, notadamente projetos incluídos no chamado PAC das concessões – o hiperprograma apresentado em 2012, que previa investimentos de quase R$ 140 bilhões. De qualquer forma, qualquer movimento será um salto em relação ao que há no horizonte para 2015 em termos de concessões de infraestrutura. O que existe, até o momento, são apenas projetos isolados, estanques, lançados em diferentes escaninhos. Um exemplo são as licitações dos aeroportos Afonso Penna, de Curitiba, Guararapes, do Recife e Varzea Grande, de Cuiabá, outorgas com as quais o governo espera arrecadar cerca de R$ 2,9 bilhões, segundo nota explicativa recém-enviada pelo Executivo ao Congresso Nacional. Isoladamente, estes números perdem força; enlaçados em um só pacote, ganham tonicidade. Serão concessões para todos os gostos. Só não entram neste embrulho as de rádio e TV. Até porque não são objeto de licitação. Essas ficam para o próximo ano, se Dilma seguir onde está e levar a ferro e fogo a propalada reforma das comunicações.
Fonte: Blog IG Relatório Reservado
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